Eles cantavam um cântico novo diante do trono, dos quatro seres viventes e dos
anciãos. Ninguém podia aprender o cântico, a não ser os cento e quarenta e
quatro mil que haviam sido comprados da Terra. Apocalipse 14:3
Estou sentado na quarta fileira de bancos da grande sala de concertos,
totalmente paralisado pelos sons que emanam do solista.
Ele é nada para ser admirado; ele é tudo para ser admirado. Baixo e barrigudo,
tem os cabelos grisalhos. O rosto traz as marcas do tempo. As pernas envoltas
em braçadeiras metálicas arrastam-se sem vida enquanto ele se movimenta com
dificuldade em direção ao palco. O maestro o acompanha carregando seu violino e
o arco. Com grande esforço (enquanto o auditório prende a respiração), o
solista sobe à plataforma acima do palco e se acomoda na cadeira que lhe foi
designada.
Seu rosto, no entanto, é maravilhoso e ilumina-se ao menear a cabeça agradecendo
os aplausos e os cumprimentos de todos por sua participação. Esse é um homem
compassivo, bondoso, terno – e muito corajoso. Seu rosto revela o poder da
graça para superar imensas adversidades.
O maestro Leonard Slatkin ergue a batuta e a Orquestra Sinfônica Nacional
começa a tocar as primeiras notas musicais do concerto para violino de
Beethoven. Essa obra magnífica, composta em 1805, é longa e difícil e
estabeleceu um novo padrão de avaliação. Afinal, é o concerto para violino de
Beethoven. Após essa obra-prima, o compositor não intentou outra.
Todos os olhares estão pregados no homenzinho sentado à cadeira dobradiça de
onde emanam sons celestiais – Itzhak Perlman. Ninguém se lembra mais das pernas
paralisadas ou das muletas. Um dom maravilhoso está sendo partilhado. Ele toca
com os olhos fechados e suas expressões faciais mudam constantemente à medida
que vive a música.
O concerto continua. Por quatro minutos ele é uma voz única e isolada, a
orquestra em silêncio, o som do violino elevando-se ao céu. Então, tudo acaba.
O auditório coloca-se em pé, gritando: “Bravo!” Ele olha ao redor, quase
surpreso em ver o público. Seu rosto transparece o cansaço. Pega as muletas e
esforça-se para descer da plataforma e depois do palco. O auditório, em pé,
pede repetidamente que volte.
Todo cristão possui um cântico que apenas ele pode cantar. Você possui o seu,
eu o meu. Num contexto mais amplo, cada pessoa na Terra toca uma música que
apenas ela pode tocar. Haveremos de cantar naquele dia maravilhoso e contar a
história: “Salvos pela graça!”
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